Eu finalmente li Território Lovecraft. E confesso, esperava muito mais.
Mais uma vez estou aqui compartilhando com vocês o que eu chamo comumente de “o problema da hype”.
O que isso significa ?
Um intenso burburinho nas redes sociais, somado ao marketing da editora e à iminência de adaptação para TV resultam em altas expectativas de leitura, criando a “hype”. E, no fim, descobrimos que o foi anunciado não é aquilo que se encontra no papel.
Território Lovecraft, de Matt Ruff não é um livro ruim. Como pontos positivos temos uma premissa interessante, uma forma narrativa descomplicada , e um trabalho de ficção histórica robusto, que enriqueceu muito o livro. O autor foi capaz de nos mostrar claramente a mecânica institucionalizada do racismo nos Estados Unidos.
Mas o livro promete, em sua sinopse, um mix de sobrenatural, horror à la Lovecraft e pulp noir, e foi aí que ele decepcionou.
O que eu li foi uma representação meio morna e passiva de todos esses elementos, especialmente a questão Lovecraft x racismo. O que supostamente parecia ser o tema primordial do livro ( uma tentativa de subversão do trabalho do polêmico autor de sci-fi) pareceu mais um pretexto para justificar a premissa e a narrativa . Também senti que alguns dos debates raciais, ainda que interessantes, também sofreram desse mal, mas eu não esperava diferente de um autor branco narrando experiências negras.
Outro problema que tive foi com o ritmo. Estruturado ao mesmo tempo como uma coletânea de contos e um romance, essa apresentação episódica, pra mim, trouxe um desequilíbrio grande na leitura e no encaixe das peças da história final . E o verdadeiro terror, que é abismo racial, ficou desconjuntado na sua apresentação.
Um livro que prometia ser incrível acabou se tornando uma leitura bem mediana.
Mas, e a série, será que vale a pena ?
Acho que o formato episódico apresentado no livro deve ajudar e muito na adaptação para TV, que foi lançada pela HBO em 2020. Eu ainda não terminei de ver a série, e mas já percebi que ela , assim como o livro, não tem a complexidade que eu esperava. No entanto, percebo nos primeiros episódios que o elemento sobrenatural é bem mais contundente, e os debates raciais/sociais mais evidentes. Talvez a combinação livro + série deixe a história mais interessante para mim. O tempo dirá.
Se você já leu, venha conversar, me diga o que achou.