“Um livro sobre aranhas no espaço? Tô fora” disse Luana, ao saber da existência do livro Herdeiros do Tempo, uns anos atrás.
Hoje, Luana está aqui pagando a língua dizendo “Aranhas no espaço? Quero mais !!“
Achou graça?
Pois foi exatamente assim que assim virei fã de “Herdeiros do tempo” de Adrian Tchaikovski.
Eu tive receio em adiciona-lo a minha lista de leituras logo de cara, por conta do tema, mas o tempo passou, o livro ganhou notoriedade e prêmios, e a Morro Branco resolveu adicionar o livro ao seu catalogo. Como não aproveitar essa chance? Como boa fã de ficção cientifica, lá fui eu desbravar novas fronteiras e novos mundos.
E o que eu achei no mundo de “Herdeiros do Tempo” me surpreendeu muitíssimo.
Em um futuro bem, bem distante, os humanos estão fugindo do que restou do Planeta Terra, a bordo de Gilgamesh, uma grande nave colônia, a procura de algum local terraformado para se estabelecerem. Eles sabem que há locais que podem abriga-los, afinal, seus antepassados exploraram e se fixaram em vários pontos do universo conhecido, e a busca por essa herança pode salva-los da extinção.
E o planeta perfeito para os humanos existe. Ao avistarem um planeta verde e com composição similar à Terra, os membros da nave acreditam terem encontrado um verdadeiro oásis inexplorado. Uma inspeção mais cuidadosa vai mostrar aos humanos que esse planeta já e habitado – nele vive uma peculiar e perspicaz sociedade de aracnídeos, frutos de um estranho experimento biotecnológico, que está pronta pra defender seus interesses dos invasores espaciais.
E quem será o verdadeiro herdeiro deste planeta?
Duas civilizações em rota em colisão
O livro se divide entre perspectivas diferentes. Acompanhamos os humanos no cotidiano na nave, expressando suas frustações, descobertas e conflitos sobre a sua precária situação no espaço. No lado oposto, acompanhamos pecas chave na comunidade das aranhas e suas impressões sobre sua natureza, estrutura social, e os desafios/oportunidades trazidos pela ameaça humana. Herdeiros do tempo trata de um verdadeiro choque de civilizações: os humanos no fim de seu ciclo, em perigo de extinção, e as aranhas nos primórdios do seu desenvolvimento, lutando para expandir seu alcance e conhecimento. O contraste entre os pontos de vista dos dois grupos e muito bem estruturado, inteligente, e se estende ao longo do livro, até o confronto final entre as duas espécies.
Pra mim, a caracterização das aranhas é o destaque dessa obra. Adrian Tchaikovski foi capaz de tornar os personagens não humanos no seu maior feito. Pra muita gente o detalhismo pode ser cansativo, mas em ficção cientifica ele não e só bem vindo, como muito necessário para a imersão do leitor. O aspecto biológico-evolutivo está presente e facilita o nosso entendimento de como essas aranhas se articulam socialmente, como aprendem novas habilidades, e como usam esses conhecimentos na expansão no seu ecossistema.
Isso significa que o autor conseguiu equilibrar a parte cansativa da caracterização e ambientação com acontecimentos muito interessantes na comunidade dos insetos, tornando-as, inclusive, em boa alegoria sobre a evolução humana em sociedade. Relações sociais, questões de gênero, colonização e até religião tem vez por aqui.
Eu odeio os humanos?
Acho que foi proposital o autor brincar com o nosso desgosto natural por insetos e inverter os interesses, fazendo com que a gente ganhe apreço pelas aranhas e não se interesse tanto pelos personagens humanos. A gente já começa o livro conhecendo a humanidade na sua pior faceta – destrutiva, arrogante -, e, por isso as aranhas ganham nossa simpatia. Embora eu não tenha curtido muito os pormenores da parte dos humanos na nave, e tenha, em certas partes, até nutrido um certo sentimento negativo por eles, preciso confessar que as narrativas aranhas versus humanos se complementam bem como um todo.
O embate final entre as duas espécies vai tomando corpo e torna-se inevitável ao fim do livro, mas, ainda assim, me surpreendeu em muitos aspectos. Façam suas apostas, e depois e contem se vocês conseguiram acertar esse desfecho. Aliás, desfecho esse bem interessante,e sem pontas soltas.
O que mais dizer sobre esse livro?
Esse livro é um prato cheio pra fãs de novos e velhos estilos de ficção cientifica, porque tem um pouco de tudo. Os conflitos no espaço, as novas espécies, e biotecnologia vão agradar os fãs das operas espaciais, do estilo mais clássico; os debates filosóficos, questões de linguagem e o impacto da religião na sociedade são temas que certamente agradarão aos fãs mais modernos. E ainda que seja o primeiro de uma trilogia, “Herdeiros do Tempo” funciona perfeitamente como livro único, ja que tem um final bem fechadinho e satisfatório, então não tenha receio de fazer a leitura.
Se você, como eu, gosta de ser surpreendido na leitura, então não deixe de conhecer “Herdeiros do tempo”, de Adrian Tchaikovski. Aliás, fica aqui também a minha dica para que você conheça mais do trabalho do autor, que também escreve ótimas fantasias e tem livros muito bem avaliados e premiados.
Já leu? Então deixe ai nos comentários o que você achou desse livro !